O Jornal Diario do Aço, de Ipatinga, conversou com Digão, vocal e guitarra dos Raimundos, confira alguns trechos da entrevista:


DA – No momento vocês preparam um novo disco. Como vai o processo de gravação?

DIGÃO – Só podemos adiantar que ele será só de músicas inéditas. Estamos na sintonia e senti que agora é o momento. Só propus um álbum de inéditas devido ao entrosamento. Nós quatro assinamos todas as composições. Nos trancamos no estúdio em minha casa para fazer tudo. E só vamos mostrar quando estiver pronto.

DA – O rótulo “forró-core” ainda se enquadra no estilo da banda, ou você buscam outras influências?

DIGÃO – Seguimos com essa linha, pois ela é nossa raiz e somos fiéis a ela. Claro que podemos usar uma ou outra coisa moderna, mas nunca perder a essência.

DA – E sobre as letras sacanas e divertidas, que cativam públicos de várias idades?
DIGÃO – A gente fala as coisas do jeito que é. A gente não canta em Português, canta em Brasileiro.
DA – Depois da saída de Rodolfo, como vocês encontraram fôlego para se reerguer?
DIGÃO – Na nossa verdade. A separação foi uma coisa isolada e não decisão da banda. Foi de uma pessoa. Então pensei: ué, lutei a minha vida toda, ajudei a construir, tenho parte aqui, isso não é caça-níquel, tem uma verdade, então buscamos a nossa força. A forma como se deu a ruptura, não foi nada justa com a gente. Não foi só pela parte do Rodolfo como pela gravadora (Warner) que não nos apoiou. Uma sucessão de eventos que culminou na nossa saída da mídia. Mas hoje vejo isso com bons olhos. Tínhamos que virar essa página, na época a banda tava muito exposta, no auge. Mas hoje tudo mudou. Os antigos fãs continuam gostando da gente e a nova galera vai aos shows. Começamos de baixo para cima, voltamos a tocar em grandes festivais.
DA – Você ainda tem algum contato com Rodolfo?
DIGÃO – Aquele cara de antes era meu amigo, hoje não sei quem é mais.
DA – Depois dessas turbulências, como você definiria o novo momento do Raimundos?
DIGÃO – Definiria como aquela viagem de escola 8ª série muito divertida, apesar de estar com 42 anos de idade. Estamos em sintonia e muito felizes. As gravações em casa do novo disco tá com uma energia muito legal. Acho que trata-se do momento certo e é agora. Escuto gente falando que a banda tem que acabar, mas respeitei meu coração. E o apoio do público ajudou pra caramba.
DA – Essa história de resistência do Raimundos mostra também a força do rock nacional, apesar do atual cenário em que o estilo não tem tanta projeção?

DIGÃO – O retorno da Rádio 89 FM (referência em rock no Brasil) mostra um novo panorama. O Brasil tá dominado por outros ritmos. Agora está havendo uma reação. Devido a influência dessa rádio acredito muito na retomada, pois teremos lugar para tocar nossa música sem estar subordinados aos diretores, que geralmente enfraquecem a nossa criatividade. Hoje quem dita as regras são os donos de rádio. A cena musical brasileira tá muito frouxa. O rock trouxe virilidade e quem gosta disso não consegue ouvir rádio. E quem não conhece fica sem descobrir.
DA – Nesse contexto, você acha que internet é uma alternativa para buscar outras coisas?

DIGÃO – Na internet as pessoas têm que procurar. Quando a rádio toca, massifica muito. As pessoas são preguiçosas para procurar outras coisas. As rádios levam a massa. Se tem radio que toca rock, ela vai fazer a massa voltar a gostar. Acho que o povo brasileiro tá muito carente, e aceita qualquer canção de amor e carro. Mas elas têm prazo de validade. Mas sabemos do potencial da internet e estamos presente nela em vários canais.

DA – Vocês estão cotados para tocar no Rock in Rio. Como anda a negociação?
DIGÃO – Existe uma grande possibilidade de tocarmos no palco Sunset, estamos mais dentro do que fora.