Conforme noticiado na Lokaos Rock Show a revista canadense BraveWords.com
sentou-se com Alan no fim do ano passado para descobrir mais sobre sua
nova empreitada assim como especular em volta de duas das mais
duradouras franquias da história do rock, o Great White e o Guns N’
Roses.
BraveWords.com: Chegamos ao fim da música ‘física’ [CDs, vinil, etc.]?
Alan Niven: “Não, eu não acredito nisso. As vendas de discos
estão caindo, mas eu acredito que se o seu material é bom, seu pacote é
apropriado e seu preço é justo, as pessoas ainda irão comprá-lo.
Antigamente, achávamos que 75% das vendas no varejo eram espontâneas.
Você precisa apoiar e manter essa oportunidade. Perdemos muito nas lojas
de varejo, mas por outro lado, quando eu estava crescendo, eu comprava
meus discos do LED ZEPPELIN e do JETHRO TULL nos fundos de uma loja de ferragens. Então sempre haverá um meio
.”
BraveWords.com: Você recebe muito material de bandas que
acham “Oh, ele é o cara do Guns N’ Roses e nós somos o próximo Guns N’
Roses”?

Alan Niven: “Sim, tivemos nossa cota de pessoas que acham que são o
próximo Guns N’ Roses, exceto que elas não percebem que não há ‘próximo
Guns N’ Roses’, mas pode haver uma excelente banda com sua própria
personalidade com seu próprio estilo. Ainda assim, recebemos algumas
coisas muito boas.             Há uma deliciosa capacidade de descobrir
coisas interessantes por acaso na maneira que você se conecta a músicos e
bandas
.”
BraveWords.com: Permita que eu pergunte a você sobre o GUNS
N’ ROSES. Todo mundo critica a nova versão da banda porque Slash não
está lá…porque Duff não está lá…Mas daí você tem uma banda como o
WHITESNAKE que é essencialmente DAVID COVERDALE com uma porta giratória
de músicos. Você tem o FOREIGNER que é MICK JONES e uma nova gama de
pessoas. Você tem mudanças na formação do THIN LIZZY todo ano. Minhas
perguntas são, por que você acha que essas bandas se livram da brinca,
mas o AXL e o GUNS N’ ROSES recebe mídia negativa?

Alan Niven: “Eu acho que é uma questão de percepção por parte do público. Você mencionou o THIN LIZZY [Vivian Campbell estava tanto no Thin Lizzy como no DEF LEPPARD
na época da entrevista], há um grau de aceitação no público de que
existe uma ordem natural de reviravoltas. Vivian é um cara muito legal e
um grande músico e eles acomodarão Vivian na posição de tocar com o
Thin Lizzy. Entretanto, quando você tem uma situação onde muito
obviamente um sujeito afastou os outros, e ainda falou que ele ‘é o
último resistente’ e que ele sozinho representa a idéia de GUNS N’ ROSES
e, a propósito, o Guns N’ Roses não existe até onde eu entenda. O Guns
N’ Roses até onde eu concebo tocou seu último show no dia 7 de abril de
1990 em Indianápolis que foi o último show do [evento beneficente para
fazendeiros dos EUA] FARM AID que a formação original
tocou. Esse é meu ponto de vista pessoal e particular. Mas nesse caso,
nós temos uma situação na qual a primeira coisa que Axl fez após me
demitir foi fazer com que o resto da banda cedesse os direitos do nome
exclusivamente pra ele. Eu acho que estamos olhando pra um caso de
coerção e desagravo e maldade de espírito que demonstra uma resposta
negativa quando eles vêem uma bandeira do Guns N’ Roses por cima de uma
plateia em Leeds [Inglaterra] que é exacerbada por um clone de Slash que
está fazendo os mesmos trejeitos e usando uma cartola. Quando tem um
cara que parece muito em corte de cabelo e maneirismos que Izzy e toca
uma guitarra como a dele e você olha pro baixista e pensa “bem, isso é o
mais perto que eles acharam de parecido com o Duff”. Eu acho que é uma
baita sacanagem da parte de Axl. Eu acho que é um tremendo insulto às
pessoas que fizeram o Guns N’ Roses o que a banda era…para Izzy, Steven,
Slash, Duff e eu acho que é muito insensível e arrogante. Eu acho bobo
Axl fazer isso e acho que é idiotice uma plateia aceitar isso. Deixe que
eu esclareça, Axl tem todo o direito como pessoa de tocar seja lá qual
música ele quiser tocar com quem ele bem desejar. Esse é um direito que é
absolutamente incontestado, mas eu não consigo digerir que ele afirme
ser o Guns N’ Roses por si próprio – ele não é.”


BraveWords.com Eu entendo seu modo de pensar,
mas eu também entendo a importância de uma marca e se colocarmos Axl num
patamar mais alto de cobrança então deveríamos colocar todas as bandas
nesse mesmo patamar.

Alan Niven: “Deixe que eu lhe explique. Se eu tivesse que falar de um só indivíduo, eu diria que o maior vocalista do rock n’ roll é PAUL RODGERS e eu sou um grande fã do FREE, mas quando o Free deu o que tinha que dar – eles não chamaram a banda nova de ‘Freedom’. A nova banda se chama BAD COMPANY. È algo diferente. Tinha músicos diferentes, apesar de liderados por Paul. O LED ZEPPELIN originalmente se chamava THE NEW YARDBIRDS
até que eles se deram conta do fato de que aquilo não era o ‘novo’
YARDBIRDS, mas algo diferente. Um novo nome… uma nova identidade..uma
nova marca.
BraveWords.com: Poderia ser também devido à ideia de marca não era tão forte assim na época?
Alan Niven: Perceber algo como uma marca é uma compulsão
excessiva de um ponto de vista comercialista, ao contrário de um ponto
de vista artístico ou criativo. Eu acho que a sua integridade reside em
sua criatividade artística não em sua imagem e se você vai mudar as
coisas substancialmente – então mude o nome. Se alguém morrer, daí você
tem a opção de continuar tentando achar alguém para preencher a vaga da
pessoa que não está mais com você ou você pode recriar. Eu sempre tiro
meu chapéu para o LED ZEPPELIN por encerrar suas atividades quando John
Bonham morreu. Jimi Hendrix sofreu uma certa pressão para tocar com mais
músicos negros e ele saiu da JIMI HENDRIX EXPERIENCE pra BAND OF
GYPSIES. Não impediu que a música fosse excepcional. Era diferente, mas
não deveríamos negligenciar nossa plateia. Eu acho que eles são
inteligentes o suficiente para saber que Jimi tocava guitarra no
Experience e Jimi está tocando na Band of Gypsies. Eu quero ver Jimi
tocando guitarra e se eu quiser um pôster de Jimi, eu compro.
Ironicamente, a primeira banda que estabeleceu um senso de marca foi o
GRATEFUL DEAD porque eles surgiram da contracultura não comercial, mas
ainda assim fizeram da banda uma marca e assim uma vez que Jerry
[Garcia] faleceu, eles pararam e isso é correto e honroso. E também..se
você vai começar algo novo…então comece algo novo.

BraveWords.com: Só parece injusto pra mim que as pessoas se
queixem do Axl se chamar Guns N’ Roses ainda que David Coverdale possa
subir ao palco com seu octogésimo guitarrista e seu vigésimo – terceiro
baterista e se denominar Whitesnake e ninguém reclama.
Alan Niven: Eu acho que a coisa passa do limite quando você vê
imitações com roupas parecidas e tocando de maneira similar. Eu acho que
você se sente manipulado e eu acho que daí você sente que há um
elemento de cambalacho nisso. Eu acho que a maioria dos fãs que foram
aos shows mais recentes em Leeds e Reading diriam que Axl estava com uma
voz muito boa considerando sua idade, tanque de oxigênio e
teleprompters. Eles ficaram deleitados por ouví-lo desfilar as canções
da melhor maneira que ele pôde apesar dele perder um pouco de fôlego
aqui e ali, mas a despeito do fato dele obviamente não estar 100% em
forma, eles ouviram algumas canções clássicas as quais eles têm amado
por anos e eles curtiram a noite, mas não era a porra do Guns N’ Roses. É
uma banda cover, Mitch. Eu só acho que é triste ter chegado a esse
ponto no qual você tem pessoas no palco fazendo mímica dos membros
originais.

BraveWords.com: Você estava junto do Guns N’ Roses no começo.
Você olha para os últimos vinte anos e pensa em todas as oportunidades
perdidas por eles não conseguirem se manter? Ou é mais um caso deles
serem assim mesmo tão caóticos que criou uma mítica que os manteve na
ribalta esse tempo todo?
Alan Niven: É uma questão de personalidade e quando isso se
dissipou… obviamente Axl tem certos traços de personalidade que não
necessariamente combinam com situação de grupo. Foi até onde podia. É
irônico pra mim assistir às imagens da BBC [dos shows em Leeds e
Reading] e ouví-lo cantar sobre amor em seu coração… eu tenho
dificuldade em lembrar de um único feito de amor abnegado que ele tenha
tido que eu tenha testemunhado. Infelizmente, eu posso dizer que eu
testemunhei muitas ações negativas da parte dele. Esse é um cara que
vive sozinho e não teve sucesso algum como pai de família, por exemplo, e
até onde eu saiba ele não tem filhos e não tem uma entidade familiar em
torno dele. Eu acho que essas são todas circunstâncias salientes e
indicativas. Certamente, eu olho pra trás e sei que uma de minhas
principais funções com a banda era manter as coisas funcionando assim
como protegê-los deles mesmos e o interesse daqueles associados a eles.
Certa vez David Geffen queria uma trilha sonora deles para um filme que não era tão bom. Alguém quer Axl na [revista] Vogue porque uma das esposas de um dos executivos da Geffen é
uma editora na Vogue. Você tem que manter tudo isso em rédeas curtas e
você tem que manter o espírito da banda vivo. Meu desejo pra eles era
que fossem considerados os ROLLING STONES de sua geração. Obviamente, eles não tiveram nada parecido com o ROLLING STONES em resultado. Eu não acho que os STONES tenham feito algo relevante desde Tattoo You.


BraveWords.com Deixe que eu faça algumas perguntas aleatórias. Steven
Adler acabou de lançar um livro, ele está no [programa televisivo
estadunidense] Celebrity Rehab, e tudo mais. Quais são seus sentimentos
em relação a Steven?
Alan Niven: Primeiro e acima de qualquer coisa, meu desejo é que
ele tenha saúde física e mental. Eu sinceramente espero que ele fique o
tão física e mentalmente saudável que ele puder. Isso é o que desejo a
ele.